domingo, 14 de junho de 2009

Como é ser o responsável pela produção artística de criação alheia?

A produção artística é um dos tipos de produções que mais mexe com aquele que produziu. O orgulho (positivamente falando) e o reconhecimento por ter criado esta ou aquela obra, são juntamente com a recompensa financeira os maiores pagamentos que um artista pode receber pela sua criação.
Tão importantes são esses dois fatores, que por muitas vezes o artista dispensa a recompensa financeira apenas em nome do reconhecimento, da imortalização, da aparição pública, do aplauso, ou simplesmente do prazer.
A obra do artista, seja plástica, literária, musical, ou qualquer outra forma de expressão artística, é o maior bem que seu produtor possui, é o orgulho de sua profissão, é a “menina dos olhos” do criador.
Porém, falando genericamente, o artista não precisa de mais ninguém para que sua obra seja completada, finalizada e apreciada por todos. O pintor leva 5 minutos ou 50 anos para finalizar uma tela, mas quando acaba, acabou. É só expô-la. O músico cria sua partitura sozinho ou acompanhado, mas a finalização fica por conta do indivíduo ou do grupo que trabalhou na obra, um cd gravado não tem o poder de modificar a obra. O poeta pode rimar amor com dor, ou amor com olor, dependendo do contexto, da imaginação, da inspiração, mas ninguém vai ousar dizer que se a rima tivesse sido feita de outra forma teria sido melhor ou pior, a obra é apresentada pronta, e qualquer alteração a descaracterizaria.
O profissional de criação gráfica publicitária tem que lidar com o fato de que sua obra será finalizada por outro, ou por outros.
Ele cria o “layout”, a “arte final” o conceito que hoje é visto na tela de um computador, ou em um “boneco” montado manualmente, mas não é por isso que em sua mente não está claro como aquilo deve ficar após a finalização pela gráfica. Para o artista é lucidamente claro o resultado final de sua obra, porque ela também está pronta, só que na sua cabeça, na sua imaginação.
A gráfica que lidar com o projeto criado pelo artista vai lidar com essa variável, que não é palpável, que só é tangível por uma fração de minuto, o cruzamento das linhas entre produção e criação, a idéia do diretor de arte, do designer, do diretor de criação.
O nome da profissão Técnico em Artes Gráficas é uma insanidade permitida, porque técnico transmite a idéia de números, de geometria, de aritmética, de precisão, mas seguido da expressão Artes Gráficas, deve somar-se ao imaginário, ao sorriso e à lágrima, às sensações. O sujeito recebe uma formação técnica pra aprender a interpretar aquilo que não é técnico.
O profissional de vendas de artes gráficas, formado em uma escola ou não, é um Técnico em Artes Gráficas, porque usa metodologia científica pra falar de cores, de formas abstratas, de arte. Ele será o responsável, na linha de frente, de reproduzir tecnicamente os sonhos. Ele deve interpretar que aquele preto tem que ser “bem preto” ou tem que ser meio acinzentado mesmo, de acordo com o que ouve do seu criador, e saber tecnicamente, como passar para esse artista, aquilo que ele deve fazer para que aquele preto fique como ele imagina, para que o leigo que pegar aquele impresso, sinta a sensação que o artista desejou provocar, e que o resultado (normalmente econômico) da peça gráfica seja alcançado.
Já acompanhei aprovação em máquina de trabalhos cujo artista me disse que o damasco (fruta) que aparecia em determinada página tinha que ficar em determinada tonalidade de laranja, porque senão pareceria damasco espanhol e não o turco, e não há prova analógica ou digital que corresponda a esse tipo de expectativa se não houver um Técnico acompanhando a impressão do trabalho.
Se o damasco ficar diferente, o produto é outro, o cliente que procura o produto original não vai se interessar por aquele outro que agora aparece na imagem. Ao mesmo tempo há na página, ou na folha de máquina uma noz ou um palmito, cuja variação no amarelo pode fazer o produto parecer velho, e se o tratamento de imagem não tiver sido bem feito, não há como equilibrar as cores de forma mecânica para que o palmito pareça saudável e o damasco pareça o turco.
O artista pode imaginar uma cor sólida, desenvolver todo seu projeto pensando naquela cor, mas por problemas de verba pode precisar converter aquilo em quadricromia, usando cores CMYK, mas em seu imaginativo continua enxergando aquela cor pura e imaculada.
Alguém que vai mexer naquilo depois da criação precisa ter conhecimento e disposição para avisar o artista de que a cor que ele imaginou será impossível reproduzir em esquema de composição, e esse papel cabe ao vendedor técnico, que não sabe criar, mas sabe exatamente como precisa lidar com a criação alheia.
Junto com tudo isso, o profissional não pode se esquecer de que em sua carreira ele tem um objetivo maior: o de vender suas horas de máquina, de preencher sua produção, de manter suas máquinas funcionando, de atingir metas e agregar valor ao faturamento da empresa. Ele precisa apresentar resultados, e se não apresentá-los, por melhor profissional técnico que seja, não terá lugar no mundo dos negócios, vai precisar arranjar emprego em uma área interna da gráfica, onde poderá usar o conhecimento técnico que tem, e não vai precisar desenvolver nenhuma técnica de vendas mais apurada.
É uma tarefa árdua, recompensadora para quem consegue manter-se vivo nessa carreira, mas causadora de muitas desistências entre aqueles que se aventuram ou ousam entrar nessa profissão.
Para os iniciantes em vendas, é importante ter conhecimento técnico ou ter um excelente apoio técnico dentro da gráfica. Para os que permanecem na carreira, é imprescindível conhecer o produto que vende, suas variantes, suas particularidades. Sem conhecimento a chance de perder um cliente na primeira encomenda é muito grande, porque o conhecimento é exatamente o que fará com que o vendedor disposto ouça nas entrelinhas tudo o que o cliente espera daquele trabalho e não disse diretamente.
O conhecimento faz com que o vendedor consiga tratar com o cuidado que exige um trabalho de criação de outrem. O conhecimento vai gerar satisfação quando o trabalho for entregue.

Boa semana!

Um comentário:

  1. Muito bom Luiz...
    Continuo te seguindo viu!

    Bjão e continue com textos assim viu!

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